
Luiz
sai de casa, como de costume, na expectativa de encontrar-se com Joana naquela
manhã. Porém, dado o hábito deste encontro, não há qualquer outro sentimento
que o deixe excitado ou preocupado. Há, sim, um certo prazer de encontrar com a
pessoa que naquele momento parece ser especial em sua vida. Afinal, Joana é
muito carinhosa e com ela partilha os assuntos sobre os quatro filhos em comum.
Pensando
assim, toma a condução que o levará ao seu destino. No percurso, vai repassando
o que imagina ser a conversa deste dia, e definindo em quais ou tais pontos
deve ceder ou não. Está tudo mais ou menos roteirizado, como sempre. Ao mesmo
tempo em que organiza seus pensamentos numa espécie de agenda, observa com
indiferença a paisagem que resvala ao seu redor.
Entretido
em seus pensamentos, nem se dá conta de que puxara o sinalizador, quando dá por
si já está descendo os degraus, à porta do coletivo. Cumprimenta alguém no
ponto de parada e segue pela rua, quase que automaticamente. Chega à casa de
Joana na hora que combinara, sem qualquer novidade.
Empurra
a meia porta e entra, virando-se, em seguida para fechá-la. O silencio da casa,
no entanto, não é o habitual. Em geral, quando chega, Joana está junto a pia,
lavando louças ou ao fogão, preparando o almoço. Agora, não há movimento algum,
parece que não há ninguém em casa. Logo percebe que Joana está no quarto,
sentada na cama, arrumando os longos cabelos negros. Vai ao seu encontro e
beijam-se brevemente.
Luiz
sorri e pergunta, com zombaria, por que ela está se vestindo? Joana também
sorri e responde que gosta que ele a dispa. Luiz senta-se na cama e ficam
conversando, conforme ele vai puxando os temas que havia programado discutir
com ela. Joana pergunta pela esposa de Luiz que, sem qualquer constrangimento,
vai dissertando sua vida conjugal com Carmem.
Joana,
então, fala dos filhos, das despesas da casa, da viagem que fizera à casa de
seus pais e outros assuntos já esperados. As coisas todas vão ocorrendo dentro
do previsto e do habitual. Assim, vão conversando e, devagarzinho, vão se
aproximando um do outro. Um detalhe no cabelo dela, um botão desabotoado na
blusa dele... as mãos frias dela na mãos quentes dele.
Desde
que Luiz conhecera Joana, nunca sentira nela tanto ardor, tanta volúpia. E,
claro, mesmo depois do amor, extasiado, ele não pode deixar de perguntar sobre
o que está havendo. Quase que lhe pergunta por que não tem sido daquele jeito
sempre. É certo que se dão maravilhosamente bem na cama, mas daquele modo,
jamais ocorrera.
Joana,
ainda com a expressão do prazer cintilando no rosto e no corpo inteiro, diz que
tem uma coisa muito importante para dizer a ele. De imediato, ele imagina que
ela pode estar grávida. E a interpela neste sentido. Joana nega sorrindo. O
clima está ótimo e Luiz não se cansa de abraçá-la e beijar o seu corpo. Joana
não resiste, mas também não retribui como das outras vezes.
Afinal,
Luiz pergunta sobre o que mesmo ela quer falar com ele.
Joana
se recompõe e, em silêncio, vai vestindo-se sob o olhar curioso de Luiz. Ela
começa elogiando a esposa de dele: é uma mulher bonita que, mesmo sabendo que
os dois vêm mantendo uma relação, inclusive, com quatro filhos, nunca criou
problema. Até a recebe em sua casa, como recebe também os seus filhos. A ajuda
quando precisa e está sempre disposta a compreender o seu lado. Joana diz, em
fim, que pensou bastante e que apesar de o amar muito, a partir daquele
momento, não o quer mais.