Regina chega ao seu apartamento naquele dia com certo brilho nos olhos, mais adaptada à cidade, descobriu uma livraria em seu caminho, e, passando por lá, teve a ideia de comprar um livro que pudesse ler, na companhia de Hermano, antes de dormir. Trouxe o livro de um autor desconhecido, chamado Raimundo Santana Lemos. Trata-se de uma recriação da história João e o Pé de Feijão.
Tudo pronto, Regina começa ler a história para Hermano.
João descobriu em meio à vegetação rasteira de uma capoeira em suas terras um enxu, uma espécie de abelha que produz mel em colmeia no subsolo. A quantidade de mel era tal que João teve que utilizar uma burra para transportá-lo em barris. E de tanto trabalho, utilizando cangalhas com cargas pesadas de mel, criou-se uma peladura no lombo da mula. Ensinaram para João que pó de feijão torrado ajuda a cicatrizar e evita varejeiras. João colocou o pó de feijão na bicheira e soltou a mula, lamentando não ter concluído o transporte do mel. Tanto ainda que ficou por engarrafar que o lugar tornou-se uma imensa lagoa de mel de enxu.
Passado o período chuvoso, João põe-se a procurar a burra no capoeiral. Soube, em sua busca, que um fenômeno vinha chamando a atenção de moradores da região em uma de suas capoeiras, um pé de feijão crescera tanto que ninguém conseguia ver o seu final, nem olhando de longe, porque o tal pé de feijão entrava nuvem adentro. João esqueceu, por momentos, sua busca e foi verificar a procedência de tal história.
Chegando ao lugar, viu que era verdade, e, de tanta admiração, foi logo entrando na moita. Surpreso, percebeu que aquele enorme pé de feijão crescera no lombo de sua burra. A coitada mantinha-se quieta, deitada, porque não conseguia levantar-se. João, então, foi à sua casa e trouxe alguns amigos para ajudá-lo a derrubar aquele pé de feijão e recuperar seu animal de carga. Retornando, deu de garra do machado e juntou a contar as ramas do pé de feijão, junto com seus auxiliares.
Foi derrubando vagens e subindo na ramagem. Percebe que começa a juntar gente com animais com cambitos e caçuás que enchiam de feijão, transformando-se numa enorme romaria, com filas imensas indo e voltando. Mas João não deu trela, estava preocupado em livrar sua burra de tamanha dificuldade e levá-la para casa, outros serviços dependiam dela.
Quando João deu por si estava em um lugar muito estranho, parecia fumaça ou nuvem. João deixou o pé de feijão e começou a caminhar sobre aquela superfície, fascinado. Era tão estranha a sensação esquisita sob seus pés. E, ao se afastar, não percebeu que seus amigos haviam conseguido, finalmente, derrubar pé de feijão. João ficou sem poder descer. Danou-se a caminhar, quando avistou uma casinha simples, de quintal, com cerca de pau-a-pique onde havia roupas de frades estendidas. João não contou pipoca, pegou os cordões que servem de cinto aos frades, amarrou uns aos outros, pendurou uma extremidade na cerca e deixou descer a outra.
Segurando-se devagarzinho, foi descendo com todo cuidado. Mas, ao chegar ao final, viu que ainda faltava muito para alcançar o chão. Com muito esforço, retornou a casa e ficou pensando no que fazer. Logo, apareceu São Francisco, o dono da casa que lamentou não poder fazer muito por João a não ser ceder seus cordões novamente já que João os havia retirado sem permissão. Enquanto pensava, João viu subir até ele uma coluna de fumaça com forte cheiro. Por este cheiro, João identificou tratar-se da fumaça do cachimbo que sua avó fumava sempre à tardinha. João teve, então, a ideia de trançar esta fumaça e emendar a trança com o cordão e descer novamente.
Ao final, João chegou a uns dois a três metros de distância do chão. Entendeu que não conseguiria subir outra vez, e decidiu pular, mesmo arriscando machucar-se seriamente. A sorte é que João caiu justo na parte rasa da lagoa de mel de enxu que se formara. Mas, por trama do destino, atolou-se, não conseguia sair do lugar. Gritou que ficou rouco, por alguém que o viesse puxar dali. Não vindo ninguém, João tomou uma decisão: foi a sua casa, trouxe uma enxada e desatolou-se.
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