
Tenho um fascínio pelo universo das cidades . Quando escuto esta palavra em algum lugar, paro para ouvir do que se trata . Entendo que uma cidade é sempre descrita a partir de impressões pessoais bastante localizadas, por mais que quem a descreva busque referir-se a diversidades , apontando bairros e situações . Comparo uma cidade com aquela cena dos cinco pânditas cegos que , apalpando pontos diferentes de um elefante , tentam descrevê-lo. Cada um deles descreve o elefante segundo o lugar que apalpa.
E as particularidades não são apenas físicas; a experiência não se constitui apenas das visualidades. Os prédios , os logradouros públicos etc. estão em tudo o que se experimenta, até mesmo o sabor de um sorvete de fruta típica ou o banho em um rio ou lagoa . As impressões produzidas pela experiência são , por assim dizer , essencialmente sinestésicas. Cada sensação será tanto mais particular quanto mais a visita for motivada por interesses de especialização profissional . Quero dizer , se o visitante for, digamos, um publicitário, vai conhecer em Teresina, por exemplo , além das agências e do hotel ou residência em que esteja hospedado, claro , alguns bares , produtoras e, talvez , veículos de comunicação . A impressão que alguém assim leva da cidade é a mais restrita possível . Alguém pode argumentar que não é bem assim porque a cidade é pequena, e, entre um lugar e outro o visitante passará por ruas e avenidas que lhe darão uma visão mais abrangente. Eu digo que os lugares de trânsito e as paisagens enquadradas pelas janelas dos automóveis parecerão mais postais deformados que em quase nada correspondem à realidade do lugar .
Tenho visto pessoas se referirem a lugares que nos são comuns, que , para mim , em nada correspondem à descrição que ouço. Ambos apalpamos pontos diferentes e nos sensibilizamos por outros sentidos . Lembro de um amigo que se referia à cidade de São Luis com um certo tom de deboche, porque, segundo ele, em todos os lugares que conheceu na cidade só viu gays . Disse isto e acrescentou que até o guia de sua excursão era gay . Pode ser que aí esteja a explicação , experienciou um lugar com características bastante marcadas. Eu , pessoalmente , tenho outra impressão de São Luis. Nem me detenho no lado preconceituoso , o que desejo é discutir os limites da experiência e daquilo que uma cidade se deixa revelar a cada um que a experimenta .
As contradições e as peculiaridades todas das pessoas , dos poemas , das músicas se entrelaçam no tecido citadino num emaranhado de sensações e sentidos que não cessam nunca de se transformar , embora se mantendo os mesmos o tempo todo . O olhar , a visada é que se impregna de desejos , contaminada que está pela memória de cada um que lê as situações , assim como as expectativas que têm de si e do que está em seu entorno.