
Já
ouvi falar de muitos lugares onde Deus está. O Céu é, certamente, aquele lugar
em que, digamos, não resta dúvida. Mas ninguém sabe exatamente onde fica o Céu.
Há quem diga que o Céu é a própria Terra e que o alcançamos quando conseguimos
ser felizes. Outros dizem que a felicidade está dentro de cada um de nós;
portanto, neste caso, o Céu seria uma espécie de estado de espírito. Em cada
uma destas possibilidades existe um número bastante grande de detalhes, de
penduricalhos que se ajustam como explicação ou justificativa para uma tese
complexa.
Como
quem mais prega a existência de Deus num Céu são as ordens religiosas, é comum
que se escute falar que uma igreja é a casa de Deus, a casa do Senhor. Neste
caso, poderíamos pensar que uma igreja é o Céu. No entanto, os religiosos
explicam que a igreja é a casa de Deus, qualquer um pode falar com ele indo à
igreja, pode encontrá-lo lá, mas poucas ou nenhuma pessoa, em sã consciência,
chega a confirmar, com segurança, qualquer experiência neste sentido.
É
muito comum também que ouçamos falar que Deus está no Céu, na Terra e em toda
parte. Bom, se Deus está em toda parte, parece meio desnecessário que eu fique
aqui buscando escrever sobre os lugares onde dizem que Deus está. Como este
argumento parece ser daqueles que buscam ganhar uma discussão ou encerrar uma
conversa definitivamente, eu vou, a princípio, desconsiderá-lo. Está certo,
Deus é onipresente, onisciente etc. etc. Mas se formos por este argumento vamos
ter que parar de conversar.
Lembro
que, quando criança, à hora das refeições, ninguém podia brincar ou falar
desaforo, palavrão. Se alguém se arriscava a desconhecer a lei, a mãe, o pai ou
os avós ralhavam. Botavam uma cara feia e repetiam enfaticamente para nos
aquietarmos, porque Deus estaria à mesa. Olhávamo-nos, olhávamos os arredores e
nunca víamos. Mas ninguém ousava dizer que não via. Apenas obedecíamos, sem
discussão. Pensava sempre comigo mesmo, o lugar em que Deus está é à mesa.
Algumas vezes nem havia mesmo uma mesa, era apenas uma esteira de palha
estendida ao chão, ao redor da qual todos se sentavam para comer.
Em
entrevista que o escritor Paulo Coelho deu à revista Veja, perguntaram-lhe
porque seus livros têm tantos erros bobos, às vezes até parecem erros de
digitação. Ele disse que é porque não faz nenhum esforço para retirar os erros
de seus textos. E não os tira porque, segundo ele, Deus está nos detalhes e
retirando os erros do texto poderia estar tirando Deus de sua obra.
O
padre celebra a missa, a partir da leitura de um livro, donde diz extrair a
palavra de Deus. Os pastores e os evangélicos, de modo geral, andam com a sua
bíblia para cima e para baixo. Beijam, oram e cantam com os olhos pregados
nesses livros. Mesmo os estudiosos, os pesquisadores buscam o conhecimento, com
os quais se armam para conquistar o mundo, nas páginas dos livros. Embora
alguns até usem este conhecimento para negar a Deus, é nos livros que encontram
sua sapiência.
As
gerações de sábios que se vão deixam, para as gerações futuras, muitos
conhecimentos. Muito deste conhecimento é praticado e posto em rotação sem que
haja necessariamente nenhuma palavra escrita a respeito. Contudo, é nos livros
que vamos buscar o conhecimento com mais substância, aquele que resiste ao
tempo e que serve de fonte de consulta a quem queira tirar dúvidas acerca de
algo existente no mundo. Existência que pode ser até como ideia, pensamento,
algo imaterial.
Já
ouvi dizer que um bom livro sempre leva aos céus pelo prazer da leitura, das
descobertas, das histórias que oferta. Esta relação entre Deus, céus e livros é
muito humana. Isto pode não explicar nada, nem precisa, mas pode apontar para
um lugar onde Deus pode estar e quase ninguém se dá conta. Deus está nos
livros.
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