Para falarmos de uma gata muito especial, recorremos ao poeta que, dizem, adorava os felinos: Eliot. E nos inspiramos num poema em que, a propósito de falar de um certo gato, cheio de manhas e manias, discorre sobre aquilo que lhe parece particular. Assim também faremos a respeito dessa gata. Quem não a conhece, por certo, estranhará que seja tão cheia de si e determinada, porque, a olho nu, sobressai-se uma ternura sem par, emoldurada por uma beleza igualmente ímpar.
Para começo de conversa, Rim Tim Tigresa usa três números diferentes de celular e a cada momento que buscamos localizar em um deles, está utilizando o outro. Deste modo, diverte-se, quando alguém lhe revela cheio de mágoas que não consegue encontrá-la ou falar-lhe ao telefone.
Combina de sair, deixa todos animados e, na última hora, quando dão por sua falta, ela liga avisando que está muito cansada, para sair de casa. Nem adiantam argumentos porque, naquele dia, se prostrará dentro de casa, como a deixar-se de manha, de olhos presos ao monitor que exibe um site a ser explorado, lentamente.
Numa mesa, quando percebe que alguém está muito eufórico, cheio de elogios a alguém ou a alguma coisa, põe-se a criticar a tal pessoa ou objeto elogiado. Faz cara de mau gosto e torce o nariz, para cada palavra pronunciada. E sempre que assim for, mesmo sob os protestos de outrem, ela repetirá tudo do mesmo modo. E não há nada que se possa fazer a respeito.
Rim Tim Tigresa arruma-se para sair como quem vai à caça, ninguém consegue ficar mais bela. E com tanta beleza, torna-se alvo de conquista, mas a ninguém permite entregar-se. Faz-se de desentendida ou foge acintosamente. Tudo é feito de maneira que o conquistador perceba-se ridículo.
Diz que adora shows de tudo quanto é banda: de rock a axé music, de reggae a mpb, mas quando sai com a sua turma, no auge do show, diz que vai e vai embora. Podem se encher de argumentos que não abre mão de sua decisão. Mas assim que outro show se anuncia, marca no calendário e azucrina suas amigas até que prometam que lhe farão companhia.
É leve, linda e meiga, mas tem um gênio que põe qualquer cabra valente para correr. Parece frágil, delicada como uma pétala de rosa, mas encara paradas que fariam tremer Dadá e Corisco. E não abre nem para um trem carregado de explosivos. Ai de quem se meter a besta com ela. E sempre que assim for, mesmo sob os protestos de outrem, ela repetirá tudo do mesmo modo. E não há nada que se possa fazer a respeito.
Rim Tim Tigresa é uma gata cheia de não-me-toques. Tem uma inteligência fora do comum. Antenada, dá conta de coisas atuais e de outras do arco da velha. Parece quietinha, mas não tem quem a segure quando dana-se a dançar. Dança qualquer ritmo, não sei se para si ou para chamar a atenção. Mas que é bonito vê-la dançar, isto é. Quando baixa a guarda, dá até vontade de pegá-la no colo.
Com sorriso atraente que tem, e com o humor refinado que destila, consegue encantar rapidinho a quem estiver por perto. Vez ou outra, porém, é comum ouvi-la ironizar acerca de atos e fatos com os quais não concorda. Envolta nessa aura de fada, ela vai longe em sua vassoura de magias. É uma feiticeira que vê coisas de outro mundo e não faz questão de esconder. Também não é para menos, tem uns olhos tão grandes e bonitos que quase sobram no seu rosto pequenino.
Rim Tim Tigresa parece cheia de dúvidas, mas se afirma em certezas absolutas. Ninguém, ao seu redor, fica desamparado, porque, além de tudo, é solidária, amiga fiel e leal. É, contudo, crudelíssima, com quem a desafia ou lhe pisa os calos. Não tem dó nem piedade. E sempre que assim for, mesmo sob protestos, ela repetirá tudo do mesmo modo. E não há nada que se possa fazer a respeito.
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