quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

LUA DE MEL


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Um casamento simples, sem muitos convidados, sem grande festa, apenas um jantar com a família da noiva, já que a família do noivo é de outro estado e sequer foi convidada para a cerimônia. A alegação é a de que tudo foi decidido muito de repente. O namoro foi breve, o noivado ainda mais: do primeiro encontro ao enlace decorreram apenas três semanas. Mas nada é problema, tudo é só felicidade.
A música já se repete e a conversa rola já também a repetirem-se os assuntos, muito mais pelo estado etílico dos convidados do que mesmo por falta de novidades. No entanto, não se percebe que alguém tome a iniciativa de ir embora. Todos, de algum modo, fazem questão de ostentar a alegria que uma festa de casamento exige.
Curioso é que naquela festa, a família está reunida mas não há um grupo homogêneo. São pequenos grupos formados ao redor das diversas mesas. Uns falam de coisas do passado, recuperam acontecimentos saudosos ou bem humorados, outros discutem questões do cotidiano como o custo de vida ou a preferência por este ou aquele supermercado para as compras da semana.
Outros, os mais jovens, falam de músicas, de namoro ou de acontecimentos escolares ou, ainda, das últimas férias que, afinal não estão distantes, visto que ainda é setembro. À media que falam de coisas deste tipo, vão marcando encontros para novos encontros em shows, shoppings, cinema etc.
Enquanto a mesa dos adultos é servida com cervejas, whisky, cachaça etc., na mesa dos mais novos só refrigerante ou suco, nada de bebida alcoólica. Mesmo assim, não falta alegria e nem entusiasmo. A música é diversa e quando toca alguma coisa mais atual, arriscam-se até danças.
Enquanto isto, a noite avança. O casal roda de mesa em mesa e quando percebe algum demora no serviço de servir as mesas, toma a iniciativa conjuntamente. Não desgruda um do outro um só momento. Ninguém demonstra cansaço ou aborrecimento. Sabem que tem muito tempo para curtir a felicidade juntos e, um jantar que reúna toda a família é tão raro e tão agradável que ninguém tem motivo para reclamar.
Já é madrugada quando as primeiras pessoas começam a despedirem-se para ir embora. Mas, também, como estivesse combinado, todos se vão. Rapidinho já não há mais ninguém que precise ir embora. A família trata, então, de recolher pratos, talheres, toalhas de mesa, enfim, organizar as mesas e por cada coisa ao menos num lugar que facilite as tarefas da arrumação da casa quando amanhecer.
Desliga o som e logo todos estão prontos para a cama. Apenas o casal verifica as malas porque tem viagem marcada para a lua de mel numa cidade um pouco distante. A mãe da noiva demonstra preocupação por conta de estar já quase amanhecendo e adverte que dirigir com sono não é recomendável. O rapaz esclarece que procurou dormir durante o dia, que não há risco algum. Dirigir àquela hora, diz ele, é até melhor porque a tendência é que o dia vá clareando mais até que nasça o sol. Além disto, complementa, o clima está mais ameno e a estrada menos movimentada. Contra o gosto da sogra, o rapaz põe o carro para fora da garagem e dali a pouco estará na estrada.
Em pouco mais de 4 horas de viagem chegam ao hotel em que foram feitas as reservas. O rapaz retira a bagagem, o manobrista conduz o carro ao estacionamento enquanto um auxiliar de portaria conduz o casal até a porta do quarto. Um olha para o outro, sorriem, e o rapaz toma a iniciativa: põe a noiva nos braços, empurra a porta com o joelho e entram, embriagados de desejo.
Ao ligar a luz tomam um susto imenso: sobre a cama estão todos os parentes da noiva, o ex-marido, os últimos amantes, alguns médicos de especialidades diversas e uma cartomante vestida a caráter.

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