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Um
casamento simples, sem muitos convidados, sem grande festa, apenas um jantar
com a família da noiva, já que a família do noivo é de outro estado e sequer
foi convidada para a cerimônia. A alegação é a de que tudo foi decidido muito
de repente. O namoro foi breve, o noivado ainda mais: do primeiro encontro ao
enlace decorreram apenas três semanas. Mas nada é problema, tudo é só felicidade.
A
música já se repete e a conversa rola já também a repetirem-se os assuntos,
muito mais pelo estado etílico dos convidados do que mesmo por falta de
novidades. No entanto, não se percebe que alguém tome a iniciativa de ir
embora. Todos, de algum modo, fazem questão de ostentar a alegria que uma festa
de casamento exige.
Curioso é que naquela festa, a família está reunida mas não há um grupo homogêneo. São pequenos grupos formados ao redor das
diversas mesas. Uns falam de coisas do passado, recuperam acontecimentos
saudosos ou bem humorados, outros discutem questões do cotidiano como o custo
de vida ou a preferência por este ou aquele supermercado para as compras da
semana.
Outros,
os mais jovens, falam de músicas, de namoro ou de acontecimentos escolares ou,
ainda, das últimas férias que, afinal não estão distantes, visto que ainda é
setembro. À media que falam de coisas deste tipo, vão marcando encontros para
novos encontros em shows, shoppings, cinema etc.
Enquanto
a mesa dos adultos é servida com cervejas, whisky, cachaça etc., na mesa dos
mais novos só refrigerante ou suco, nada de bebida alcoólica. Mesmo assim, não
falta alegria e nem entusiasmo. A música é diversa e quando toca alguma coisa mais
atual, arriscam-se até danças.
Enquanto
isto, a noite avança. O casal roda de mesa em mesa e quando percebe algum demora
no serviço de servir as mesas, toma a iniciativa conjuntamente. Não desgruda um
do outro um só momento. Ninguém demonstra cansaço ou aborrecimento. Sabem que
tem muito tempo para curtir a felicidade juntos e, um jantar que reúna toda a
família é tão raro e tão agradável que ninguém tem motivo para reclamar.
Já
é madrugada quando as primeiras pessoas começam a despedirem-se para ir
embora. Mas, também, como estivesse combinado, todos se vão. Rapidinho já não há
mais ninguém que precise ir embora. A família trata, então, de recolher pratos,
talheres, toalhas de mesa, enfim, organizar as mesas e por cada coisa ao menos
num lugar que facilite as tarefas da arrumação da casa quando amanhecer.
Desliga
o som e logo todos estão prontos para a cama. Apenas o casal verifica as malas
porque tem viagem marcada para a lua de mel numa cidade um pouco distante. A mãe
da noiva demonstra preocupação por conta de estar já quase amanhecendo e
adverte que dirigir com sono não é recomendável. O rapaz esclarece que procurou
dormir durante o dia, que não há risco algum. Dirigir àquela hora, diz ele, é
até melhor porque a tendência é que o dia vá clareando mais até que nasça o
sol. Além disto, complementa, o clima está mais ameno e a estrada menos movimentada.
Contra o gosto da sogra, o rapaz põe o carro para fora da garagem e dali a
pouco estará na estrada.
Em
pouco mais de 4 horas de viagem chegam ao hotel em que foram feitas as
reservas. O rapaz retira a bagagem, o manobrista conduz o carro ao
estacionamento enquanto um auxiliar de portaria conduz o casal até a porta do
quarto. Um olha para o outro, sorriem, e o rapaz toma a iniciativa: põe a noiva nos braços, empurra a porta com
o joelho e entram, embriagados de desejo.
Ao
ligar a luz tomam um susto imenso: sobre a cama estão todos os parentes da
noiva, o ex-marido, os últimos amantes, alguns médicos de especialidades
diversas e uma cartomante vestida a caráter.
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