domingo, 27 de junho de 2010

REGINA VAI AO MÉDICO


Regina amanhece sentindo-se indisposta, e acha melhor procurar um médico. Depois do café, ao invés de ir para o trabalho, vai ao Centro Médico de Botafogo. O mal-estar provoca calafrios, náuseas e indisposição.
Aproxima-se do balcão de atendimento e pede para marcar uma consulta com o clínico geral. Enquanto aguarda ser atendida, apanha uma revista bastante atrasada e fica paginando sem desejo de ler, apenas olha as imagens de personalidades que se exibem numa destas ilhas cenário. Ao seu lado, uma senhora que também aguarda a vez parece agitada. Diz ela que há várias noites não consegue dormir direito por causa de barulhos que a incomodam no apartamento um andar acima do que ela mora.
Conta que o barulho parece, num momento, ser de pessoas que correm como que uma perseguindo a outra. Noutros momentos, parecem rolar pelo chão, derrubando cadeiras e outros móveis. Tem sido assim há dias: inicia uma hora da manhã e vai até próximo de cinco e meia da madrugada. O pior é que os porteiros do prédio já foram avisados, mas não tomam conhecimento. Pior ainda, o dito apartamento está vazio, os donos estão viajando para a Europa e não retornam tão cedo. A mulher reclama que está se sentindo descompensada e que não sabe mais o que fazer. Sua última saída foi procurar o auxílio médico, entende que, tomando um remédio mais forte para dormir, não será mais afetada pelo problema.
Enquanto escuta aquela história, Regina vai virando as páginas da revista sem se deter muito em qualquer uma delas. De vez em quando para e ergue os olhos, para tentar observar as pessoas que parecem prestar atenção naquela senhora idosa que fala e gesticula com nervosismo. Quanto mais ela se percebe observada, quanto mais gente se chega próximo para ouvir seus relatos, mais a senhora dramatiza sua situação.
Há quem sorria do modo dramático com que ela se expressa, há quem demonstre indignação e assombro, e parecem questionar como podem incomodar o sono de uma pessoa idosa que está precisando agora descansar na vida? E os tais porteiros, que não descobrem ou não querem tomar providências com aquela situação, onde estariam? Há quem seja indiferente e continue lendo aquelas matérias das revistas ultra ultrapassadas, como se novidade fossem. As reações são as mais diversas. De um momento para o outro, alguém é chamado para receber atendimento, e seu lugar é ocupado por alguém que acaba de chegar, ou aguardava em pé um assento.
Regina, com seu mal-estar, não pede a Deus que seja logo atendida, porque não sabe quanto tempo aguentará se sentindo daquele modo. O tempo passa lentamente. Um suor frio percorre sua espinha e borbulha a testa. Os lenços de papel já não dão conta. Mesmo assim, a boca ressequida e amarga exige que Regina vá ao bebedouro e engula copos e copos de água. Como não consome bebida alcoólica, sabe que não é ressaca, mas as pessoas que a observam parecem admiradas de tanto vê-la beber água.
A atendente comunica à senhora que contava seu drama que, quando sair o paciente do consultório três, ela será atendida. A mulher confirma com a cabeça e, ainda gesticulando, ergue-se da cadeira, e, como se necessitasse ainda da audiência que a circunda, comenta, para finalizar, que, se o sonífero não der resultado, vai apresentar queixa na policia. Ainda mais que parece emanar do tal apartamento um cheiro muito forte e, parece, alguma fumaça.

Nenhum comentário:

Postar um comentário