Esta noite passada, vivi belos momentos de alegria na
companhia de colegas de faculdade. Uma festa e tanto. Cheguei à minha casa às
altas horas e, de tão cansado, cai na
cama e dormi quase antes mesmo de deitar-me completamente. Agora, a cabeça me dói
e a boca mistura uma porção de gostos onde o amaro se destaca com certa agonia.
Ultimamente, venho experimentando repetidamente e com
maior frequência estas sensações. Enquanto os sentimentos incômodos se
sobressaem às outros, prometo não repetir mais os momentos que tem culminado
com tais sensações. Uma espécie de arrependimento de não sei o quê. Um suor
frio percorre a alma e o desânimo parece esvanecer o corpo.
E como não tenho conseguido cumprir as minhas promessas,
resta-me um medo apavorante de não ter mais domínio sobre as minhas vontades, de
não saber mais como controlar os meus desejos. Não compreendo por que no dia
seguinte, lá estarei novamente junto ao mesmo grupo de pessoas, frequentando os
mesmos lugares e tomando todas. Ocorre que até mesmo este medo
justifica que eu não queira ficar sozinho com meus pensamentos, que precise
beber mais um gole de cerveja e ficar acordado madrugada adentro. Cair na cama e dormir de imediato parece
justificar todas as coisas que tenho feito, embora a ressaca do dia seguinte faça
parecer tudo inconseqüente e sem justificativa.
Eis-me
aqui a curtir o mal estar da noite anterior. Um comprimido destes contra a sensação de embiaguez para o
mundo para mim e o alimento quente acaba por aliviar-me do enjôo.
No
trabalho, o PC conectado, vou navegando pelas redes sociais e curtindo os
comentários e fotografias deixados como registro da esbórnia. As imagens e as
postagens são pouco recomendáveis apesar de quase que completamente desfocadas.
Em meio a tudo, logo surgem os convites para marcar os encontros para a agenda
de hoje à noite. Recuso todos e, quando dou por mim, percebo que não produzi
nada do que tinha que produzir no trabalho e a manhã está no seu limite.
Todos os colegas estão saindo pro almoço e eu fico um pouquinho mais para dar uma ou outra
resposta a quem me solicitou alguma opinião e quando saiu, resta-me pouco tempo
para almoçar. Faço um lanche rápido na padaria da esquina e retorno ainda com
o sanduiche na mão, para não chegar
atrasado.
Enquanto
tarde avança volto aos contatos da manhã e os convites recusados vão sendo
reconsiderados um a um, vou revendo-os e firmando compromisso para logo mais. Aos
que já não estão conectados eu envio um sms e, caso seja mesmo alguma daquelas
pessoas indispensáveis, ligo do celular. Tudo confirmado, ninguém é besta para recusar um bom papo e ótimas companhias. Deste modo foi ontem, antes de ontem e assim por
diante...
As
pilhas de papel se acumulam sobre a minha mesa e vou adiando ler os processos,
os deixo sempre para o dia seguinte. Mas, amanhã eu quero chegar mais cedo e
rapidinho ver os que forem mais urgentes, não há mesmo nenhum caso complicado.
Tudo coisa de rotina, concluo. Saiu dali para a noite que me aguarda, os
melhores amigos do mundo, uma noite inteira disponível e a cidade querendo ser
descoberta. Vamos a um bar que está sendo inaugurado na periferia. Pelo que eu
soube, bebida e comida mais em conta por causa da inauguração. Vou conferir,
mas prometo que hoje volto cedo para casa. Não quero repetir a noite de ontem,
aliás, as noites dos dias anteriores. O melhor de tudo é esta noite me
engolindo sem paradeiro.
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