Satélites patrulham o espaço.
E eu me movo como passo:
entre a província e o mundo.
Elias Paz e Silva
Confesso que não estou muito a fim de fazer a prova hoje. Vou à aula porque tenho que ir, não sei bem como estão as minhas faltas, não posso arriscar a ficar reprovado. Até que eu estudei o bastante para fazer uma boa prova, mas não gosto de fazer provas, esta é que é a verdade.
Vou-me agora aproximando do Centro
Acadêmico, vejo que todos os meus colegas de turma estão lá. De cara, noto que
algo está errado: primeiro porque esta turma não anda junta assim e nem
tampouco freqüenta em bloco o CA. Depois, está todo mundo de cara amarrada,
como se alguém houvesse feito alguma ofensa séria. Pergunto o que está pegando,
me falam que não vão fazer a prova, vão falar para o professor. Ninguém ali quer fazer a prova. Eu também não estou a fim, mas não falo nada, só escuto. Pergunto
por que não vão fazer a prova? Dizem que não tem nada a ver o livro que o
professor indicou como texto: o autor fica falando de suas experiências
pessoais, e não existe conteúdo para avaliação, ninguém entendeu nada.
Bom, este não é o meu motivo, até que
eu achei o livro interessante. É verdade que os textos estão escritos na
primeira pessoa e alguns são auto-elogiosos, mas, no geral, o assunto é
interessante e o autor conhece bem, fala com propriedade. No entanto, continuo
só ouvindo. Demonstro, com a cabeça, concordar com o que estão argumentando.
Quando a turma inteira se levanta para
dirigir-se a sala de aula, vou junto. Afinal, se houver uma reviravolta,
estarei lá para cumprir com a minha obrigação. A turma elegeu uma garota para
falar com o professor, uma espécie líder da turma de última hora. Ao chegarmos à
sala, alguns minutos de atraso, o professor já está lá. Sobre a mesa, o Diário
de Classe e alguns outros papéis que devem ser as folhas de questionário da
prova. Sentamos todos em silêncio, a garota senta-se na primeira fila. Sento-me
no fundo da sala, um lugar donde posso observar tudo.
A garota pede ao professor para falar,
ao que ele assente com a cabeça. Ela começa dizendo que ela e os seus colegas não
estão preparados para fazer a prova. O professor a olha com espanto, e pergunta
o que fizeram desde que o livro foi indicado e o texto disponibilizado para a
leitura? A garota diz exatamente o que me haviam dito no Centro acadêmico: o
autor fala de coisas pessoais, não há conteúdo que possa servir como tema de
avaliação...
O professor faz silêncio, olha a turma
com perplexidade, como se esperasse que alguém ali manifestasse alguma opinião
diferente ou, quem sabe, pudesse dar uma explicação mais plausível. Silêncio
completo.
O professor, então, toma a palavra e
sorri com ironia, começa dizendo que não irá impor uma prova para a turma se
esta turma se confessa incapaz de entender o livro que tentou a muito custo
ler. Neste momento, a minha vontade foi a de protestar, de soltar os cachorros
pra cima do professor. A verdade, é que não consigo. Estou me sentindo
humilhado e co-responsável pela decisão da turma e, mais ainda, se não consigo
esbravejar é porque também eu concordo, de alguma maneira, com o que diz o
professor. Percebo que mais uns dois ou três colegas argumentam que não é
assim, que o professor os está diminuindo, mas a conversa não prospera.
Ficou pior ainda quando o professor
pega seu material para se retirar e resolve tomar mais uma decisão. Diz ele que
não haverá mais nenhuma prova, que as notas até ali atribuídas serão somadas com
a nota do seminário que deverá ser apresentado em dias previamente marcados,
donde será tirada a média para cada um. Outra coisa – completa o professor – ninguém
mais precisa entregar o artigo que teríamos que produzir, que seria uma
violência exigir que escrevêssemos um artigo científico. Disse isto e
retirou-se.
Rayana, fico muito agradecido por suas palavras. Volte sempre e recomende o blog para as pessoas que você gosta. Grande abraço.
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