domingo, 23 de agosto de 2009

ENCONTROS, DESENCONTROS, REENCONTROS

ARREBATAMENTO

O cão uiva ou canta?
Eu penso que morre: o imenso
luar na garganta.
Barroso Gomes
















A universidade é um lugar de encontros.

Salvo algumas decepções ou surpresas de última hora, é na universidade que nos encontramos com alguns dos nossos sonhos acalentados desde há muito. É certo que, algumas vezes, até confundimos os sonhos de nossos pais e parentes com os nossos. E quando não confundimos e sabemos separá-los perfeitamente, encontramos com estes também. Nos encontramos com algumas pessoas conhecidas e outras com as quais passamos a conviver (por vezes, pro resto da vida) e, portanto, a conhecer. Tanto umas quanto as outras têm os seus próprios sonhos. Encontramos também desafios com os quais não contávamos, inclusive, desencontros. Damos de cara com autores que nunca havíamos ouvido falar e com professores que os apresentam como se fossem íntimos. Nos encontramos com pessoas estranhas e idéias para tudo quanto é gosto. As sensações de descoberta são as fronteiras dos sonhos.

A universidade é um lugar de passagem.

Todos crescemos ouvindo dizer que um dia passaremos no vestibular e cursaremos uma universidade. Alguns de nós mentalizamos isto com naturalidade e, um dia, acabamos passando pela universidade. Atravessamos o espaço universitário como quem tem metas a alcançar. O trajeto, os livros, os amigos, os autores, as salas de aula, as festinhas etc. passam a fazer parte de nossa rotina durante a travessia. Neste aspecto, a universidade tem um compromisso conosco: nos fornecer as ferramentas e, principalmente, a certificação para que nos habilitemos a disputar um espaço profissional no mercado. O diploma é a materialização desse crédito, o certificado. No entanto, cabe à sociedade e ao mercado confirmar ou negar a validade de tal credenciamento. Mesmo que em alguns casos haja fracassos, não se tem conhecimento de alguém que deixou de desejar esta passagem por desconfiar de que não valha a pena.

A universidade é um lugar de reencontros.

Os sonhos são outros e nós também não somos mais os mesmos quando decidimos que temos de voltar à universidade para revalidar o nosso credenciamento: o mercado e a sociedade nos cobram cursos de especialização, mestrado, doutorado, pós-doutorado etc. etc. E até, por vezes, um novo curso, inclusive, que nos apontará um percurso de vida profissional diferente. Nestes momentos, o corpo rejeita o desconforto das carteiras e o cansaço do trabalho diurno nos anestesia a mente. Os professores insistem em arremessar textos e cobrar leituras enquanto nos contam longas histórias que, em certos momentos, parecem ficar cada vez mais distantes. Reencontramo-nos com colegas de longas datas e há muito não vistos. Temos que reaprender tudo, inclusive, a reconquistar os velhos amigos e/ou novos amores. O encontro com o desencontro. Nas fronteiras do que está estabelecido, inicia-se a ruptura, quer pela escolha de cada um e, portanto, pela confirmação de seus desejos; quer pela frustração de não encontrar o que se desejava, nos moldes como desejado. Aquilo com que nos deparamos não corresponde mais às nossas expectativas.

A universidade é um lugar dentro de nós

A experiência faz e desfaz elos e nos redireciona, nos reenvia a outros encontros. A porta pela qual acessamos a universidade é um poderoso filtro de contenção, um espaço simbólico de passagens restritas a sentimentos de vitória e/ou de frustrações. É gratificante para quem acessa, mas é no interior de cada um de nós que se constroem os afetos afeitos às expectativas da universidade construída em nossos sonhos e que levaremos para sempre conosco. É dentro de nós que se constituem as marcas das nossas vidas, das experiências que vivenciamos no espaço universitário e nos espaços que lhes são relacionados. Por isto, imaginamos, os muros da universidade são tão altos, mesmo quando sequer nos são visíveis, mesmo quando são apenas cercas que acercam os sonhos dos quais nos acercamos com tanta esperança. Antes do ingresso na universidade temos só expectativas. Depois, quando saímos, o que nos fica como experiência é repleto de memória e muito mais rica e cheia de novas expectativas. A universidade, naquilo que nos marca apesar de suas abstrações, ocupa um lugar especial dentro de nós, para sempre.

Um comentário:

  1. Thiago Ramos:
    Realmente... Vejo muita gente que entra na universidade agindo de uma forma e terminar de outra. Mudou no percurso ou aproveitou essa nova etapa da vida para tentar ser uma nova pessoa? Seja qual for a resposta, é certo que a universidade nos ensina sobre o mundo, mas também nos ensina sobre nós mesmos...

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