domingo, 3 de julho de 2011

CORRER O RISCO


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Diante da TV, sábado esportivo, o sol anima a ganhar o mundo ou a ficar entocado, só olhando pela janelinha eletrônica algum entretenimento mais interessante. Toca o celular, uma voz feminina, em tom de locução de aeroporto, diz que não a conheço, mas que está desejando me encontrar. Pergunto quem é, mas a pessoa prefere não se identificar. Vou puxando assunto para ver se reconheço a voz que me parece familiar. Diz que uma amiga minha deu a ela ótimas informações e por isto se interessou em me conhecer, pessoalmente.
Uma conversa deste tipo conduz a muitas deduções: primeiro, pode ser um trote. Alguém conhecido está brincando com a minha manhã de sábado. Se for mesmo esta a situação, melhor embarcar na história. Não há muito a perder, e não deixa de ser instigante uma brincadeirinha de esconder e descobrir.
Segundo, pode ser verdade, alguém que eu não conheço está querendo me encontrar. Neste caso, resta-me decidir, se eu também quero conhecê-la. É preciso que a conversa prossiga para ver se de fato há motivação que me leve ao encontro de uma pessoa que eu nem sei quem é. Uma pergunta se repete: Como ela sabe o meu nome e o número do meu telefone? Claro, se o que diz é verdade, a tal amiga informou tudo sobre mim.
Pensando deste modo, surpreende-me certo temor. E se for uma armação, uma destas práticas atuais em que alguém utiliza uma mulher para atrair um desavisado para uma situação de roubo ou sequestro relâmpago? A conversa já vai longe e não há um só detalhe que esclareça a situação ou a identidade de quem diz estar querendo me conhecer pessoalmente.
Assim, muitas possibilidades vão se desenhando, sem qualquer esclarecimento.
A pessoa sugere que nos encontremos às 18h na principal avenida do centro da cidade. Este horário é mais indicador de que pode se tratar de um encontro de fato desejado, não é tarde, apesar de sábado não haver muito movimento naquela região da cidade. Justifica que a escolha da avenida é porque está vindo de ônibus, de um bairro da zona Sul, e que a localização é mais adequada. Vir de ônibus é indicador de muitas outras coisas, mas será que é verdade?
Vou embarcando na história e fazendo interrogações. Quando pergunto, por exemplo, o nome de quem lhe deu meu número de telefone, desconversa. Posso tomar a decisão ali mesmo de desligar e interromper o papo, mas, como não há mais nada a fazer naquele momento e tomo gosto e curiosidade pelo desenrolar do mistério, vou adiante.
Observo a lista de atividades agendadas para esta tarde de sábado e decido incluir o encontro, depois de tudo.
Às 17:57h, ligo, conforme o combinado. Ela atende, pede desculpas e, em seguida, diz que só estará no local combinado às 19 horas. Diz que o ônibus atrasou e que este será o tempo correto para seu deslocamento. Peço, então, que, quando chegar ao local, me ligue. Aguardo.
Passa do horário combinado e nada de ligar. Resolvo ir ao shopping sem mais considerar o encontro como possibilidade. Encontro alguns amigos, ficamos conversando. Por volta de 19:45h, toca o telefone, é ela. Pergunta onde estou, respondo que estou na avenida, um pouco distante do lugar marcado. Ela diz que já chegou. Digo para aguardar um instantinho e vou ao seu encontro.
Ela está num ponto de ônibus e, para minha surpresa, não apenas tem muita gente como tem, pelo menos, uns três ônibus parados, pegando passageiros. Ligo e peço para ela vir para onde estou, avisa que já me viu, apesar do escuro. Vejo-a tocar o vidro do lado do passageiro, abro a porta e ela, enfim, toma assento.