Esta semana eu fiquei muito
invocado. Vou te dizer, acontece cada coisa na vida da gente, tem cada uma!
Imagine que eu fui a uma lanchonete com a maior vontade de comer um sanduba
daqueles e tomar um suco de laranja geladíssimo. Pois bem, sento lá e chamo a moça
que está atendendo. Ela faz sinal pra eu esperar e fica no mesmo lugar, olhando
para o teto como se rezasse.
Enquanto aguardo que ela me
atenda, fico tentando me situar naquele lugar, é a primeira vez que eu entro
nesta lanchonete. Estou aqui perto fazendo um trabalho já faz algum tempo, mas
nunca havia entrado nesta lanchonete. Olho para o interior do salão e me
detenho numa pessoa que está fazendo um suco, um rapaz que usa um
liquidificador. O olhar dele parece distante, não está ligado no que faz.
Vou passeando o olhar e, em meio
a mesas e cadeiras vazias, um garoto me observa com atenção. Sorrio, mas ele
não pisca o olho. Aceno, chamando-o para a mesa onde estou, ele não se
mexe. Deixo o garoto, e volto-me para a
atendente, ela permanece olhando para o teto e também não vem me atender.
Levanto-me e vou em sua direção, mas ao perceber os meus movimentos, ela
dirige-se para trás do balcão. Até ai, não me abalo, encosto no balcão e
pergunto se ela pode atender.
O cara continua com o
liquidificador ligado e com o olhar direcionado para a porta aberta adiante,
sem se mover. Por curiosidade, olho para onde havia visto o garoto me
observando, ele permanece no mesmo lugar e olhando fixamente para mim. Começo a
ficar preocupado, achando tudo aquilo muito estranho. Lá fora, o movimento das
pessoas, dos carros e dos galhos das árvores dá o tom de normalidade, dentro da
lanchonete é a inércia das pessoas que produz a sensação de que ali tem algo
errado.
A garota, agora por trás do
balcão, olha para mim com ar de curiosidade e não fala nada e nem se mexe. Com
certo cuidado, pergunto novamente se ela pode me atender. Ao perceber que sua
expressão não se altera, que aquela situação está me incomodando, dirijo-me à
porta de saída. Já fora, da lanchonete, vejo a garota que antes estava por trás
do balcão, de pé, parada diante de uma mesa e segurando uma bandeja com um
sanduiche enorme e um suco de laranja.
Penso que foi a fome que me empurrou
em direção a tal mesa. Quando a garota me vê chegando, abre um sorriso e comenta
que havia pensado que eu teria ido embora. Pergunta se acaso custou a trazer o
pedido, ao que eu respondo com um não meio sem jeito.
Na mesa ao lado está o garoto que
antes me encarava, tomando um suco que, pela cor, deve ser de acerola. Lembro
do cara que tinha o olhar fixo e distante enquanto preparava o suco no
liquidificador. Após terminar de comer o sanduba, por via das dúvidas, retorno ao
interior da lanchonete e a cena permanece inalterada: a moça por trás do balcão
olha-me com ar de curiosidade, o garoto de pé por entre as mesas se mantém
sério a me olhar, enquanto o liquidificador funciona com um ruído forte, o
rapaz continua parado olhando para fora da lanchonete.