sábado, 3 de dezembro de 2011

O PRIMEIRO PORRE



Regina, apesar de ter resistido muito a ir ao aniversário de uma amiga do trabalho, diverte-se como nunca. Já não se sente uma estranha na casa da amiga. Conhece quase todo mundo que está ali e participa das conversas com muita desenvoltura. Tem tanta confiança que até arrisca-se a tomar uns goles de vinho, uma novidade para si e para as amigas. A música em nível razoável, deixa fluir a conversa agradável e tudo toma um sabor nunca antes experimentado.
Percebe, no entanto, que a casa vai tomando uma maior dimensão e que o número de pessoas está diminuindo. É chegado o momento de voltar para casa. Anuncia para a amiga aniversariante está na sua hora de ir embora. A amiga pede que ela aguarde um pouco e retorna com um rapaz que diz ser um primo que irá deixá-la em casa. Regina pensa, primeiramente, em não aceitar, não quer dar trabalho, mas considerando o adiantado da hora e por estar se sentindo meio tonta por causa do vinho, aceita e agradece a amiga, desculpando-se, em seguida, pelo incômodo.
Igor, o nome do rapaz é Igor. No carro, Regina adota a estratégia de puxar conversa, primeiro para não cochilar e depois para que Igor não perceba que ela está sob o efeito de bebida. Fala coisas variadas e os dois riem como se se conhecessem de algum tempo. O carro percorre as ruas em direção a Copacabana, onde Regina reside. O rapaz conhece bem a cidade e não demora muito, chegam ao destino.
Defronte ao prédio, Regina desce e, sem raciocinar, pergunta se Igor não quer subir ao seu apartamento. O rapaz agradece, pergunta se pode vir noutro dia mais cedo para uma visita ou, quem sabe, possam sair, talvez, ir a um cinema. Regina sorri como que concordando, agradece novamente e adentra ao prédio. Ao passar pela portaria, o porteiro diz alguma coisa que ela não entende direito, mas também não preocupa-se em saber o que seria. Cumprimenta-o com um bom dia, afinal, já passa das 2 horas da madrugada, e toma o elevador.
Demora um tempão procurando a chave do apartamento dentro da bolsa, quando imagina ter que pedir ao porteiro para chamar um chaveiro, encontra as chaves tateando em meio as coisas todas que a impediam de encontrar o que buscava.
Perde mais um tempinho para encaixar a chave na fechadura. Abre, em fim, a porta e caminha cambaleante até a sala. Joga-se inteira no sofá e sente o mundo girar a sua volta. De imediato, tenta se levantar imaginando que possa a vir a vomitar e ali não seria um bom lugar. Vai ao banheiro, encara o espelho perguntando-se por que estaria tão tonta se, afinal, bebera tão pouco? O espelho parece argumentar que na verdade é por conta da falta de costume. Acaba se convencendo que está mesmo ruim, como poderia conversar com o espelho se a imagem ali refletida é a sua?
Sem pensar mais nada, toma um banho rápido, vai para o seu quarto, veste uma roupa leve e deita-se com cuidado, por conta ainda da tontura. Ao rolar o corpo devagarzinho pro meio da cama topa com alguém, toma um susto e quando esboça um grito, a pessoa a abraça carinhosa e irresistivelmente a beija com volúpia.
O sol invade o apartamento. Regina incomoda-se com a luminosidade e, embora sob o efeito de sono pesado, lembra do momento exato em que topou com alguém em sua cama. Joga a coberta e ergue-se de supetão. A cabeça pesada dói um pouquinho, mas ainda está tonta e quase cai ao se por de pé. Estupefata, vê que está completamente nua, mas quem está deitado em sua cama é o boneco Hermano.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

MATAR O TEMPO



Esta noite passada, vivi belos momentos de alegria na companhia de colegas de faculdade. Uma festa e tanto. Cheguei à minha casa às altas horas e,  de tão cansado, cai na cama e dormi quase antes mesmo de deitar-me completamente. Agora, a cabeça me dói e a boca mistura uma porção de gostos onde o amaro se destaca com certa agonia.
Ultimamente, venho experimentando repetidamente e com maior frequência estas sensações. Enquanto os sentimentos incômodos se sobressaem às outros, prometo não repetir mais os momentos que tem culminado com tais sensações. Uma espécie de arrependimento de não sei o quê. Um suor frio percorre a alma e o desânimo parece esvanecer o corpo.
E como não tenho conseguido cumprir as minhas promessas, resta-me um medo apavorante de não ter mais domínio sobre as minhas vontades, de não saber mais como controlar os meus desejos. Não compreendo por que no dia seguinte, lá estarei novamente junto ao mesmo grupo de pessoas, frequentando os mesmos lugares e tomando todas. Ocorre que até mesmo este medo justifica que eu não queira ficar sozinho com meus pensamentos, que precise beber mais um gole de cerveja e ficar acordado madrugada adentro.  Cair na cama e dormir de imediato parece justificar todas as coisas que tenho feito, embora a ressaca do dia seguinte faça parecer tudo inconseqüente e sem justificativa.
Eis-me aqui a curtir o mal estar da noite anterior. Um comprimido destes contra a sensação de embiaguez para o mundo para mim e o alimento quente acaba por aliviar-me do enjôo.
No trabalho, o PC conectado, vou navegando pelas redes sociais e curtindo os comentários e fotografias deixados como registro da esbórnia. As imagens e as postagens são pouco recomendáveis apesar de quase que completamente desfocadas. Em meio a tudo, logo surgem os convites para marcar os encontros para a agenda de hoje à noite. Recuso todos e, quando dou por mim, percebo que não produzi nada do que tinha que produzir no trabalho e a manhã está no seu limite.
Todos os colegas estão saindo pro almoço e eu fico um pouquinho mais para dar uma ou outra resposta a quem me solicitou alguma opinião e quando saiu, resta-me pouco tempo para almoçar. Faço um lanche rápido na padaria da esquina e retorno ainda com o sanduiche na mão,  para não chegar atrasado.
Enquanto tarde avança volto aos contatos da manhã e os convites recusados vão sendo reconsiderados um a um, vou revendo-os e firmando compromisso para logo mais. Aos que já não estão conectados eu envio um sms e, caso seja mesmo alguma daquelas pessoas indispensáveis, ligo do celular. Tudo confirmado, ninguém é besta para recusar um bom papo e ótimas companhias. Deste modo foi ontem, antes de ontem e assim por diante...
As pilhas de papel se acumulam sobre a minha mesa e vou adiando ler os processos, os deixo sempre para o dia seguinte. Mas, amanhã eu quero chegar mais cedo e rapidinho ver os que forem mais urgentes, não há mesmo nenhum caso complicado. Tudo coisa de rotina, concluo. Saiu dali para a noite que me aguarda, os melhores amigos do mundo, uma noite inteira disponível e a cidade querendo ser descoberta. Vamos a um bar que está sendo inaugurado na periferia. Pelo que eu soube, bebida e comida mais em conta por causa da inauguração. Vou conferir, mas prometo que hoje volto cedo para casa. Não quero repetir a noite de ontem, aliás, as noites dos dias anteriores. O melhor de tudo é esta noite me engolindo sem paradeiro.