Helena desperta e, no entanto, não vê com nitidez o que está ao seu redor. Tem a sensação de que é manhã, que acorda após uma noite de sono profundo. Estranha que esteja acordando num quarto excessivamente iluminado e, mais, que ocorram ali coisas estranhas. Contra a claridade do quarto, entrepassam vultos, pessoas que não consegue distinguir. Murmuram coisas incompreensíveis. Alguém mais próximo a chama pelo nome, pergunta se consegue ver algo que parece mostrar, como segurasse diante de si. Responde que não. Sente que se esforça para falar e, embora fale, não consegue ouvir a sua voz.
Com a insistência de tentar enxergar, aos
poucos as imagens vão-se definindo até que consegue identificar que os vultos
de antes se tratam de pessoas com jalecos brancos, talvez enfermeiros, médicos.
Agora, consegue ver que a pessoa que a interpela com questionamentos mostra dois
dedos da mão e repete a mesma pergunta: “consegue ver isto?” Responde, então,
que sim.
As pessoas reagem com alegria à sua
resposta. Compreende assim, que está numa ambiente hospitalar, talvez uma UTI.
Assusta-se com esta possibilidade, sente uma forte sensação de medo. Dar-se
conta de dores pelo corpo inteiro, mas não se recorda de nada naquele momento.
Nem ninguém a informa dos motivos de estar ali. Também, aos poucos, vai-se
sentindo entubada, respirando com o auxílio de equipamentos. Não tem mais
dúvida, encontra-se numa UTI cercada de médicos e enfermeiros que, certamente,
cuidam de si.
Depois de algum tempo, busca lembrar o
que teria acontecido. A primeira coisa que lhe vem á memória é a imagem de sua
psicóloga perguntando se ela tem consciência da sua experiência de progressão de
memória. Novamente a sensação de medo, de pavor mesmo. Em seguida, lhe vem à
memória a imagem nítida de um carro surgindo à sua frente e, ato contínuo, seu
esforço para evitar a batida. Deve ter sido isto, conclui. Um acidente de
carro, uma batida.
Questiona-se, então, o que teria a ver a
imagem da psicóloga com a tal batida, já que há muito tempo não a via? A
memória recupera algo do passado, de uma experiência de progressão
de memória que fizera, mas num tempo já muito distante. Só agora entende onde entra a
psicóloga na história, claro, tudo aquilo ela mesma havia visto, quando fizera a tal progressão de memória. Por essa experiência, teria deixado de utilizar
determinadas avenidas da cidade porque seriam muito parecidas com o lugar em que
se teria visto num acidente horrível, batendo o carro em outro, em alta
velocidade. Recorda todos os detalhes do que vira e do que agora acontecera. As
coisas começavam a se encaixar. Durante o tempo em que ficou sem passar pelos
lugares que considerava de risco, muitas vezes se questionou se estaria certa
em adotar tais cuidados, se tudo não passaria de autossugestão ou de crendice. Mesmo
assim, a despeito de perder tempo ou de enfrentar percursos mais longos,
manteve a decisão de evitar as tais avenidas.
Chora
levemente quando recorda que antes da batida, tomara justo uma destas avenidas
com o objetivo de encurtar caminho. Tinha que chegar ao seu trabalho com urgência porque
houvera marcado uma reunião e estava atrasada. Sente-se culpada porque jamais
poderia ter utilizado aquela avenida. No entanto, consola-se por entender que a
sua escolha e a pressa de chegar ao compromisso no horário fizeram com que decidisse
seguir por aquele roteiro, desapercebidamente. Em vista da pressa, esquecera por completo que
evitava passar por ali, exatamente no cruzamento que mais temia.
é um rascunho de algum livro maravilhoso vindo por aí? li por acaso o sr.wellignton dias recomendando a leitura e apostei.agora estou aqui sem saber se estou no começo,meio ou fim.rsrsrsrs.Mantenha-me atualizada,sr.laerte magalhães.Gostaria muito de ler sua mais nova obra(assim acredito)
ResponderExcluirInfelizmente, não é um rascunho de um livro. É só um texto escrito para este blog. Aliás, eu estou mesmo selecionando alguns textos deste blog para publicar em livro, mas não tem esta temática específica. De qualquer modo, agradeço muitíssimo que vc tenha lido e, sobretudo, comentado. Enquanto o livro não sai, procure ir lendo os outros textos do blog. Tomara que continue gostando. Quanto a recomendação do senador Wellington Dias, eu não sabia. Onde vc viu esta recomendação? Eu gostaria muito de conhecer. Grande abraço.
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