segunda-feira, 2 de maio de 2011

REMISSIVA


Teresina, 14 de julho de 2007
Estimado senhor,
Espero que, quando esta chegar às suas mãos, o encontre gozando de perfeita saúde, juntamente com os seus. Este desejo singelo me serve apenas para iniciar esta nossa conversa, embora, garanto, eu não esteja sendo falsa. Se alguém me perguntasse os motivos por que escrevo “estas mal traçadas linhas”, eu não saberia explicar. No entanto, penso que estou agindo apenas movida pelo sentimento de amizade que lhe tenho, apesar de reconhecer que não temos relações de proximidade.
Sei que, neste momento, anda sozinho e cheio de preocupações. É justamente neste ponto que eu entendo poder lhe contar algumas coisas, das quais imagino que ainda não se deu conta. Sei bem que a vida nos prega muitas peças e, muitas vezes, foge ao nosso controle. Mas sei também que o senhor não se tem dado o devido cuidado e se acompanhado de pessoas que não merecem sua companhia.
Imagine que uma destas pessoas com as quais se tem acompanhado vive a falar mal de sua pessoa. Imagine que se finge de amiga, para ficar mais próxima e conhecer seus hábitos e segredos, para contá-los aos quatro cantos do mundo, como isso lhe desse prazer.
Mas não só isto, o senhor também tem buscado com muito empenho um novo relacionamento, só que tem batido em portas erradas. É óbvio que aquela garota, aquela lá, daquele bairro afastado da zona Leste, não quer nada com o senhor. Diz-se inexperiente e se faz de santa, mas não passa de uma dissimulada. Aquela outra, daquele bairro que tem nome de santa, não é bem uma garota. Não me diga que foi capaz de confundir alhos com bugalhos. Não me diga que não percebeu aspereza na pele do seu rosto. Fiquei um tanto confusa e, ao mesmo tempo, desapontada, ou o senhor é ingênuo, está com excesso de carência afetiva, ou, pior ainda, é chegado. Olhe, para uma pessoa do seu gabarito não fica bem ficar dando em cima de domésticas. Não que não sejam mulheres iguais às outras ou que seja pelo simples fato de serem domésticas, mas porque o que fica parecendo é que o senhor está achando que todas estão à sua disposição, são presas fáceis. Isto não lhe parece preconceituoso, machista e, enfim, desrespeitoso demais?
Estou sabendo que estas viagens inventadas de uma hora para outra é para ir à caça noutras paragens. Nem precisaria se dar a esse trabalho já que por aqui mesmo, pertinho, sem que o senhor se dê conta, há pessoas interessadas num relacionamento seguro, duradouro, sem a necessidade de correr os riscos que o senhor está correndo. E olhe, estou usando a indicação no plural para que o senhor não fique pensando que eu estou me insinuando. Só lhe tenho amizade, nada mais do que isto. A questão é que eu estou atenta e sei das coisas. Se o senhor também atentar melhor para o que acontece ao seu redor, vai perceber sem dificuldades: tem gente de olho. Mas, também, tem gente de olho grande, tenha cuidado com isto.
Bom, não vou ficar aqui listando as suas investidas em conquistas desastradas, o senhor, melhor do que ninguém, deve saber por onde e com quem tem andado. De qualquer modo, gostaria que soubesse que estou por perto e, como já disse, lhe tenho grande amizade. Mas, só isto.
Outra coisa, tem aquela história de que o jardineiro tem que cuidar melhor do seu jardim. Pelo que tenho visto, o senhor se veste e se comporta como um homem casado. Ainda anda um tanto quanto largadão. Precisa se cuidar melhor. Tá certo que, quando tem alguém na alça de mira, se arruma direitinho, fica todo perfumado, mas por que tem de relaxar em outros momentos? O senhor há de pensar que esta história de falar de perfume me revela como alguém que está muito próximo. Eu lhe diria que nem tanto ao mar e nem tanto à terra. Por vezes, as pessoas mais próximas comentam e a gente vai capturando informações entre as amigas, e os amigos também. Homens também prestam atenção e falam bastante. Ah, como falam!
Bom, por enquanto é só isto. Mas, caso eu tenha novidade, breve o senhor estará recebendo outra cartinha minha.
Com afeto,
Uma amiga.

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