Em geral, eu não dava muita bola pra
estas estórias de sonho. Interpretar sonhos me parecia meio sem sentido.
Afinal, a visão que eu tinha dos sonhos era a de que eles se constituiriam de uma
espécie de bricolagem com fragmentos da memória pessoal do cotidiano. Assim,
participariam desde coisas que você teria ouvido nos últimos dias até os
detalhes com que se teria preocupado, em passado remoto ou mesmo com algo do
presente. Sei bem que até mesmo Freud fazia lá as suas análises considerando os
sonhos como uma via real de acesso ao inconsciente. Na trilha de Freud e de
outras orientações psicanalíticas, psicológicas ou, até mesmo, esotéricas, um
número imenso de pessoas veem nos sonhos significações de diversas ordens. Aliás, é bom que se
diga que mesmo antes de Freud os sonhos já eram interpretados sob o aspecto
simbólico, como premonições ou como revelações advindas de anjos, santos além
de outras fontes divinas. Mas, vá lá, não eu não dava muita bola.
Só que recentemente me ocorreu um
troço estranho. Imagine que por um destes motivos inexplicáveis, na semana
passada eu sonhei que estava num show do Julio Iglesias. Eu nem curto este cantor.
Mas, bom, sonhei isto. E cedinho, acordei naquele dia ouvindo conversas vindas de algum lugar da casa, falavam a respeito de Jesus, com ênfase em uma visada
messiânica. A palavra messias foi várias vezes citada. Não sei porque
e nem quem estava falando. Eu estava ainda com sono, não reconheci de quem eram
as vozes e logo voltei a dormir.
Porém, quando já estava à mesa do café, minha irmã, que vive procurando cartomantes, benzedeiras e outros amparos
místicos, falou que alguém lhe dera informações de uma pessoa que realizava um
trabalho de vidência como ninguém mais na cidade. E para que não tivéssemos nenhuma
dúvida, relatou alguns casos referentes a pessoas que comprovaram a competência
do tal vidente. Ao final, ao informar o endereço onde o vidente atende, eu estremeci.
Por que, segundo ela disse, a tenda de atendimento desta pessoa seria na Rua Messias Iglesias. De imediato, me veio a
lembrança do sonho com o show do Julio Iglesias e a conversa ouvida sobre o
Messias. Quanto à conversa, já não sei ao certo se também não teria sido sonho, eu estava muito sonolento. Mas, na minha lembrança a conversa teria se
dado de fato, eu a escutara quando por breve momento estive acordado naquele instante da manhã.
Ai eu achei que tinha por obrigação
conhecer o tal vidente. Quem sabe isto não seria uma mensagem para mim, eu nem me dei conta que estava ingressando num terreno de crenças ao
qual eu sempre tive sérias reservas. Mas decidi que tinha que procurá-lo, ver
se havia uma explicação para além da coincidência. Procurei mais informações
com a minha irmã e liguei antes para marcar um horário. Tudo organizado com cuidado
absoluto.
No dia marcado, tomei o ônibus e
seguindo as referências que havia colhido, segui em busca do endereço. Não foi difícil
encontrar a rua, mas o cuidado não foi tão rigoroso assim. Percebi que não havia
anotado o número da casa e nem do telefone, apenas as características do imóvel.
Liguei várias vezes para a minha irmã, mas o celular dela estava fora de área e
ela não estava em casa.
Sai observando cada casa e conferindo as características
que havia anotado, todas muito parecidas. Ainda procurei me informar numa ou
noutra, mas além de não ser a casa que eu procurava, não conheciam a pessoa.
Fui descendo rua abaixo e à medida em que caminhava a esperança de localizar o endereço foi diminuindo.
Quando já estava determinado a ir embora, ao cruzar com um senhor de roupas simples, alto, esguio e meio pálido, arrisquei pedir uma informação. Quando eu disse a quem eu estava procurando, o
senhor sorriu e me disse com certa mansidão que era ele mesmo a pessoa a quem eu
procurava. Disse que saíra de casa, mas deixara o recado que, caso eu chegasse
por lá, era para eu esperar porque não demoraria a voltar.
Eu senti que não estava ali
por acaso.
Como sempre muito bom...
ResponderExcluirInteressante!
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