segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A RAZÃO E O VAZIO


Regina estremece quando Armando pergunta-lhe se pode recompor o laço da sua manga da blusa. Ela olhou para o braço direito, na direção em que ele indica com o olhar e percebe que o laço está desfeito. Sorri, com timidez, e consente.
Desde sua chegada ao Rio de Janeiro, Regina não se interessara por namorar ninguém, ainda tem certo receio, mas Armando foi se aproximando devagarzinho, conquistou sua confiança e despertou sentimentos que Regina resguardava. Começaram a sair e àquela noite parecia que o namoro começaria a se firmar.
O gesto de pedir para recompor o laço da manga da blusa adquire para ela o sentido de firmar laços de amor. Parece bobagem, afinal, refazer um laço não tem nada demais, porém, é assim que Regina entende aquela pergunta. Várias vezes pensara contar a Armando da existência de Hermano, o boneco de pano que lhe faz companhia e para quem confia suas confidências. É bem verdade que Regina também não tivera coragem de confidenciar a Hermano os sentimentos que despertavam por conta dos repetidos encontros que vinha mantendo com Armando, mas aquela noite será decisiva, mas antes de aceitar o namoro precisa conversar primeiro com Hermano, não quer deixá-lo ressentido, conclui consigo.
Regina conhecera Armando pela Internet. Achava estranho que com tantos cuidados para não correr riscos com estranhos, tenha justo se aproximado de uma pessoa que conheccera no Twitter. Aparecera em sua timeline alguém com o perfil “ArmandoB” solicitando que fosse seguido, ela aceitou segui-lo e foi-lhe despertando a atenção o bom humor de Armando. Vez ou outra ela comentava ou correspondia a algum ponto de vista. Depois de alguns meses, Regina recebe uma Mensagem Direta (DM) de Armando informando seu e-mail pessoal e pedindo-lhe que informasse o e-mail dela. Ela, de imediato, respondeu por seu e-mail. Desde então, ficaram se falando também via MSN. Foram, um e outro, adicionando-se em Orkut, Facebook etc. e conhecendo-se melhor. Só recente marcaram para se encontrar, visto terem descoberto que moram na zona sul do Rio de Janeiro: ele em Botafogo e ela em Copacabana.
No início, Regina marcou num ponto do calçadão de Copacabana, no posto 3, próximo de sua casa. Ficou pouco tempo e, alegando ter que trabalhar cedinho, não demorou a retornar para casa. Aos poucos, os encontros foram–se sucedendo e ela já fica com ele até mais tarde. Ele vai deixá-la até o portão do prédio onde ela mora, mas nunca sobe. Regina não o convida para subir.
Além de viver em permanente estado de vigília por conta de morar sozinha, no Rio de Janeiro, Regina tem conhecimento dos casos freqüentes de pessoas que são vítimas de outras, conhecidas em redes sociais. Quer primeiro conhecer a família de Armando, tirar qualquer desconfiança e só, então, assumir o namoro firme.
Depois que ele recompôs o laço, ficam os dois olhando-se ternamente por alguns minutos. Daí, o inevitável, uma série de beijos e carinhos, mas sob a atenção de Regina que, vez ou outra, se afasta como a sinalizar seus limites. Armando manifesta, então, o desejo de que Regina vá com ele a sua casa e conheça os pais dele. Regina contrapõe outra possibilidade: organiza um almoço no final de semana e ele traz ao apartamento dela os pais para que ela os conheça. E ficam longamente argumentando e contra argumentando em meio a sorrisos e beijos.
Mas, aos poucos, armando demonstra descontentamento. Regina o envolve com carinho e pede compreensão. Em vão. A discussão ganha ares de rispidez. E, saem dali em direção ao apartamento de Regina. No portão, já meio desestimulados para prosseguir a discussão, Armando despede-se e, num gesto último, puxa as pontas do cordel e desfaz o laço que havia recomposto.

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