domingo, 25 de abril de 2010

DEUS NOS LIVROS





Já ouvi falar de muitos lugares onde Deus está. O Céu é, certamente, aquele lugar em que, digamos, não resta dúvida. Mas ninguém sabe exatamente onde fica o Céu. Há quem diga que o Céu é a própria Terra e que o alcançamos quando conseguimos ser felizes. Outros dizem que a felicidade está dentro de cada um de nós; portanto, neste caso, o Céu seria uma espécie de estado de espírito. Em cada uma destas possibilidades existe um número bastante grande de detalhes, de penduricalhos que se ajustam como explicação ou justificativa para uma tese complexa.
Como quem mais prega a existência de Deus num Céu são as ordens religiosas, é comum que se escute falar que uma igreja é a casa de Deus, a casa do Senhor. Neste caso, poderíamos pensar que uma igreja é o Céu. No entanto, os religiosos explicam que a igreja é a casa de Deus, qualquer um pode falar com ele indo à igreja, pode encontrá-lo lá, mas poucas ou nenhuma pessoa, em sã consciência, chega a confirmar, com segurança, qualquer experiência neste sentido.
É muito comum também que ouçamos falar que Deus está no Céu, na Terra e em toda parte. Bom, se Deus está em toda parte, parece meio desnecessário que eu fique aqui buscando escrever sobre os lugares onde dizem que Deus está. Como este argumento parece ser daqueles que buscam ganhar uma discussão ou encerrar uma conversa definitivamente, eu vou, a princípio, desconsiderá-lo. Está certo, Deus é onipresente, onisciente etc. etc. Mas se formos por este argumento vamos ter que parar de conversar.
Lembro que, quando criança, à hora das refeições, ninguém podia brincar ou falar desaforo, palavrão. Se alguém se arriscava a desconhecer a lei, a mãe, o pai ou os avós ralhavam. Botavam uma cara feia e repetiam enfaticamente para nos aquietarmos, porque Deus estaria à mesa. Olhávamo-nos, olhávamos os arredores e nunca víamos. Mas ninguém ousava dizer que não via. Apenas obedecíamos, sem discussão. Pensava sempre comigo mesmo, o lugar em que Deus está é à mesa. Algumas vezes nem havia mesmo uma mesa, era apenas uma esteira de palha estendida ao chão, ao redor da qual todos se sentavam para comer.
Em entrevista que o escritor Paulo Coelho deu à revista Veja, perguntaram-lhe porque seus livros têm tantos erros bobos, às vezes até parecem erros de digitação. Ele disse que é porque não faz nenhum esforço para retirar os erros de seus textos. E não os tira porque, segundo ele, Deus está nos detalhes e retirando os erros do texto poderia estar tirando Deus de sua obra.
O padre celebra a missa, a partir da leitura de um livro, donde diz extrair a palavra de Deus. Os pastores e os evangélicos, de modo geral, andam com a sua bíblia para cima e para baixo. Beijam, oram e cantam com os olhos pregados nesses livros. Mesmo os estudiosos, os pesquisadores buscam o conhecimento, com os quais se armam para conquistar o mundo, nas páginas dos livros. Embora alguns até usem este conhecimento para negar a Deus, é nos livros que encontram sua sapiência.
As gerações de sábios que se vão deixam, para as gerações futuras, muitos conhecimentos. Muito deste conhecimento é praticado e posto em rotação sem que haja necessariamente nenhuma palavra escrita a respeito. Contudo, é nos livros que vamos buscar o conhecimento com mais substância, aquele que resiste ao tempo e que serve de fonte de consulta a quem queira tirar dúvidas acerca de algo existente no mundo. Existência que pode ser até como ideia, pensamento, algo imaterial.
Já ouvi dizer que um bom livro sempre leva aos céus pelo prazer da leitura, das descobertas, das histórias que oferta. Esta relação entre Deus, céus e livros é muito humana. Isto pode não explicar nada, nem precisa, mas pode apontar para um lugar onde Deus pode estar e quase ninguém se dá conta. Deus está nos livros.

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