domingo, 30 de maio de 2010

HÁ MUITOS CARNAVAIS


A orquestra enfatiza os agudos nos metais de “Viva o Zé Pereira”, foliões eletrizam-se e transpiram fantasias. De repente, corre, corre para os lados dos sanitários masculinos. Gritam pelo Sr. Waldemar, o fotógrafo da festa que, às pressas, apanha seu equipamento sobre a mesa, quase derrubando as garrafas de cerveja. Acompanho aquela gente toda sem saber o que acontece. Um bom número de brincantes forma um semicírculo diante de uma cena hilária: Candinho, visivelmente embriagado, escanchado sobre o muro do Clube Social Imperatriz, dormindo, aparentemente, pendula. A [muito] custo, seu Waldemar aponta a objetiva em direção ao Candinho que, quase ao mesmo tempo, se inclina primeiro para frente e depois para o lado e despenca. Pior, cai para fora do Clube. Pular o muro é uma prática até certo ponto comum, quando a rapaziada não tem o suficiente para pagar o ingresso. Ou, mesmo, por folia.
Vendo aquela cena, lembro de um ocorrido com o dito Candinho em uma festa passada, naquele mesmo clube. Diz que Candinho tirou Telewa para dançar. De má vontade, Telewa demorou muito até chegar ao salão onde Candinho já a esperava. Mal começaram a dançar, Candinho tropeçou nas próprias pernas e, de tão embriagado, saiu aos tropicões, buscando se equilibrar no meio dos casais. Depois de algum tempo, Candinho retorna e quando estende a mão para recomeçar a dança, Telewa avisa que não vai mais dançar. Candinho olha para ela e, com surpresa e a língua embolada, pergunta, desencantado:  “Ué, já cansou?”
Voltamos todos ao salão, e com a mesma alegria, esquecemos o Candinho e continuamos a nos embriagar, ao ritmo frenético das marchinhas de carnaval. Índios, senhoras grávidas e barbadas, árabes com imensos turbantes, monstros de máscara de papel estão por toda parte.
Depois das quatro da madrugada, o clube vai ficando mais espaçoso. Poucos ainda se mantêm pulando. Mas a orquestra não para: “Mamãe, eu vou ser soldado de Israel/ Não tem água no cantil/ mas tem mulher no quartel/ além disto, guerra é guerra, mamãe/ e vai ser sopa no mel”.
Ando por ali observando, um pouco fora de foco, casais inebriados, que antes sorriam no salão, agora se estendem na grama por trás do palco. Impossível entrar no mictório, um aguaceiro malcheiroso se alastra. Mesmo assim, não há remédio, a cerveja incha a bexiga com incômodo incomum.
Não dá para sentar à mesa, a cabeça gira e pesa muito. O remédio é andar e, de vez em quando, ensaiar uns passos sem muita segurança, mas feliz. E com esta felicidade, dirijo-me com meus amigos de festa para a casa onde estamos hospedados. Toinho da Nica é o nosso anfitrião. É ele quem conta o resto da história que, aliás, não confirmo.
Diz Toinho que, ao chegar a casa, eu tento por três vezes seguidas pôr o punho no lugar errado. Coloco o punho da rede na chave da porta, deito e caio... Levanto-me e, sem dizer nada, tento novamente... Assim, pela terceira vez. Os colegas discutem se me deixam ir em frente ou alguém irá e botar o punho da rede no armador. Bom, felizmente, decidem pela segunda opção, mas só depois de rirem muito da situação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário