segunda-feira, 11 de julho de 2011

RODA MOINHO

No corpo da semana tatuam-se labutas e desejos de toda sorte. Das rodas, os trilhos em camadas de vezes repetidos, à exaustão dos itinerários. Os passos contrariam sentidos e também se repetem uns por sobre os outros, vezes sem fim, nos dias todos, repetidos. O suor enxugado, de tanto derramado como um choro poroso, renova-se no tédio tardio da mesmice. No sulco da pele aleitam-se pequenas torrentes sob o sol abrasador.

Segunda-feira. Move-se gente e mobilizam frutas, animais, ceras, cercas e cereais em sacos, sem saco, sem destino melhor conhecido. Sorrisos e apreensões amálgama de almas e coisas tecidas sobre o chão das ruas empoeiradas. Algarobas estendem ralas sobras onde se acoitam cães exauridos. Lojas e casas de portas abertas.

Terça. Cruzamentos estendidos ignoram o tempo e aquietam-se desertos. Nos bares, uma sinuca joga o jogo: tacos em giz. Desafio à morte, que espreita pacientemente. Uma mulher que passa; um menino atrás de uma bola; alguém sopra a fumaça, cigarro em brasa. Tosse há dias, os dias queimados em vão defluxam o peito. Promessa de ausência para breve.

Quarta. Uma festa anunciada para a noite movimenta os salões, as lojas de perfume, casas de variedades. As ruas recebem pessoas às pressas. Nenhum esquecimento, água em banho. O dia espera a noite em agito, ansiedade. Os encontros marcam os relógios e as almas planejam coisas íntimas, inconfessáveis.

Quinta. Voz embargada cumprimenta passantes. A cabeça arrasta a ressaca da noite anterior. O sono ainda pesa sobre os ombros. Nada que um bom banho não resolva. Todos parecem tristes como se a noite não houvesse cumprido o prometido. Todo o trabalho dos salões comprometido: cabelos desgrenhados, a pele empalidecida e os olhos borrados. Leva o rosto à água da torneira e deixa-se ver aos poucos no espelho. O dia é outro, há menos garrafas cheias nas prateleiras e nos freezeres. Um sono inteiro no mundo.

Sexta. Há uma sensação de alegria no ar. Ninguém comenta, mas já se comemora o final de semana a seguir. Roupa lavada, e passada a ferro em brasa. O vinco vai e vem como uma moda inconstante. Olha a roupa e imagina o que poderá vir dali. Veste para atrair o olhar que a desejar que tire, num confuso gosto pelo que compõe e decompõe a arte de conquistar companhias. O vazio que deve ser preenchido, sempre.

Sábado. Repete a quinta-feira pós-festa. Festa não houve, mas a conversa no bar rendeu e a noite esticou-se em meio à embriaguez da conversa e do álcool. Muita água para retirar do rosto as pegadas da noite, muita água para repor ao corpo a hidratação necessária. Muita água para limpar a alma depois da esbórnia. Memória de uma canção que diz “a água lava, lava, lava tudo, a água só não lava a língua desta gente”.

Domingo. O sol vai alto e um sono domingueiro estatelado no corpo à cama. Outro corpo, ali rendido, encena ato de parceria na peça de costume. Bom não pensar muito e viver o que o dia reserva como diferença da promessa. O jogo de futebol no campo de pelada, um banho de mar, piscina, rio ou cachoeira e a visita de gente nova, no mínimo, nas cores que o domingo pinta. A luz farta de domingo, a missa na igreja próxima e a TV sem nada que preste para se ver. Muita bobagem e preguiça, a pretexto de resguardar-se para o dia seguinte.

Segunda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário