Hoje
é dia de festa. Daqui a pouco, a empresa em que Antonio trabalha vai oferecer
uma festa para todos os seus funcionários, parentes, amigos e fornecedores.
Todas as providências estão sendo adotadas e está quase tudo pronto. A cidade é
cruzada por centenas de ligações telefônicas onde cada um dos convidados quer
saber informações, as mais diversas, do outro. Desde sugestão de salão para
fazer o cabelo, comentário sobre expectativas para logo mais, até a necessidade
de saber se há quem tenha um convite sobrando. Sempre chega alguém de última
hora e a cidade inteira desejaria ir a tal festa. Comida e bebida garantida, e
de graça.
A
festa é oferecida a pretexto do aniversário da empresa que coincide com as
fastas de final de ano. Mas, na verdade, ela serve de palco para a satisfação
pessoal do dono da empresa que conduz as atrações contratadas, realiza os
sorteios de prêmios e as efetivas premiações aos seus funcionários mais
destacados, com presentes até de carros. Todas as decisões, todos os
acontecimentos passam pelo dono da empresa e, consequentemente, o dono da
festa.
Tudo,
antes, fica a cargo de um organizador que goza da confiança do dono da empresa.
A ele é entregue a responsabilidade de controlar o acesso, distribuir senhas
para ocupação dos espaços e até para comprar a bebida e o churrasco. Para cada
item um número com uma cor que informa a que cada um dos convidados tem direito
naquele momento. Um batalhão de segurança controla o acesso ao estacionamento e
a distribuição das categorias de convidados: políticos e empresários vão pelo
corredor A, ficam sentados nas mesas próximas ao palco; os funcionários e suas
famílias pelo corredor B e ficam nas mesas mais afastadas.
O
roteiro de apresentações é conferido e os artistas são alojados em hotéis da
cidade com traslado garantido pelo organizador. Agora, sim: tudo checado, tudo
pronto.
Antonio
olha no espelho seu porte avantajado naquela roupa comprada especialmente para
a festa. Um detalhe no perfume aqui, uma penteada de leve. Um último olhar e a
conclusão de que está melhor do que o planejado. Põe os sapatos e, pela última
vez, vai ao espelho confirmar sua impressão. Confirmado, ganha o destino do
local de realização da festa, um sítio na saída da cidade.
Segue
para lá na maior felicidade. Ao chegar ao local, quase todos os convidados já
estão devidamente acomodados. Sente-se como se estivessem todos a esperar por
ele. Ergue o queixo, olha o horizonte das mesas estendidas e caminha a pessos
largos, porém lentos, pelo corredor do meio. De longe, o seu chefe que, não por
acaso, é o responsável pela organização da festa o avista: aquele homenzarrão
imenso, vindo por entre as mesas, avançando com o silencio dos que o observam
enquanto passa, vestido de camisa social branca, de mangas compridas, gravata
vermelha e calça de listas verticais, meio largas, em preto e branco.
Ao
chegar próximo ao chefe cumprimenta-o com um sorriso como se não houvesse
observado ainda seu semblante contrariado. Percebe que naquele momento as luzes
do palco se apagam como a anunciar que serão iniciadas as atrações da festa.
Ele está sob o efeito dos olhares nada discretos que lhes são lançados
experimenta uma sensação bastante particular. É a mais pura satisfação pessoal
que sequer consegue dissimular.
O
chefe, de cara amarrada, retribui ao cumprimento e o convida a um lugar um
pouco afastado dali, meio na penumbra, onde não há mais ninguém. Ele concorda
e, ainda sem se dar conta da situação, desloca-se ao lado do chefe para o tal
lugar. Sem olhar no rosto do chefe, conduz o semblante de felicidade motivada
pela visível manifestação do público que, na verdade, tinha como expectativa. O
chefe quebra o seu encanto com um pedido, no mínimo, inesperado: — Antonio,
quero que você vá para casa trocar esta roupa. E Complementa: Nesta festa ninguém
pode chamar mais a atenção do que o dono dela.
Antonio
perdeu o chão, perdeu o prazer, perdeu a graça. Saiu dali desolado pra nunca
mais retornar. A única coisa que ainda o alimentava era que, ninguém que o viu
chegar, o viu ir embora.
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